segunda-feira, 20 de julho de 2009

"Ninguém trabalha por um brasileiro campeão mundial"

Por Marilia Fakih - 18/7/2009 - 12:58 - Fonte: NextSurf



Perdigão ao lado de Raoni Monteiro - Foto: Daniel Smorigo


Roberto Perdigão nasceu no Rio de Janeiro e sempre esteve envolvido com o surf. Na juventude, saiu das ondas cariocas para tentar a vida em Florianópolis. Deu certo e aos poucos ele foi ganhando respeito da comunidade surf e credibilidade para falar da situação do esporte no Brasil e no mundo.

Nesta entrevista, o gerente-executivo da ASP South America fala de sua história no surf, de como era o mercado quando ele começou e do que falta para o Brasil chegar ao tão desejado título mundial. Confira.

Como você começou no mercado de surf?

Quando comecei, não existia um mercado. Eu morava no Rio de Janeiro e convivia com os pioneiros do Arpoador. Mas gostava muito de ir para o Sul do país, em especial Santa Catarina. Em 1975, me mudei para Florianópolis e fui fazer faculdade de Geografia.

Meus pais foram contra, então eu tive que arrumar um jeito para sobreviver por lá. Então eu comecei a fazer pranchas com o meu amigo Victor Vasconcelos (atual shaper da Hotstick).Não sei dizer em que momento eu entrei de vez no mercado de surf, mas sem dúvida esta experiência de shaper me colocou de cabeça nessa área.

E como a ASP entrou na sua vida?

Em 1977, eu fui chamado para ser juiz do Waimea 5000 no Rio de Janeiro, uma das etapas do Circuito Mundial da IPS (associação de surf que antecedeu a ASP). Nos anos seguintes, eu ajudei a realizar alguns eventos de surf como o Festival Olympikus na praia da Joaquina, o OP Pro e o Hang Loose Pro, eventos fora do eixo Ubatuba – Saquarema.

Nessa época, o mercado do surf começava a se consolidar e eu senti que tinha futuro. Em meados de 1985, eu ajudei a fundar a Associação Brasileira de Surf Profissional (Abrasp) e cuidava do gerenciamento da entidade.Em 1992, a ASP implantou o sistema WCT/WQS de campeonatos.

Como o campeão brasileiro de surf era revelado numa combinação de pontos obtidos em circuitos estaduais, nacionais e em algumas seletivas internacionais, a ASP precisava de eventos fortes no Brasil para revelar atletas para a elite mundial. Nessa, a ASP e a Abrasp começaram a trabalhar em conjunto.

Daí em 2001, eu sai da Abrasp e passei a me dedicar somente ao escritório regional da ASP no Brasil, a ASP South America, e aos eventos do WQS realizados na America do Sul.

Mesmo com toda a tradição de brasileiros no surf e atletas em potencial, o Brasil ainda não chegou ao sonhado título mundial. O que está faltando para isso?

Nenhuma entidade brasileira tem como prioridade o projeto de um campeão mundial. A Confederação Brasileira de Surf (CBS) faz o trabalho de base, com circuitos amadores, enquanto a Abrasp tem somente o SuperSurf, um circuito muito bom, mas bem fechado.

As entidades e as marcas não se mobilizam, falta integração. O Brasil é muito grande e cheio de talentos espalhados, mas os atletas não tem expectativa.Falta estrutura na carreira desses meninos.

Não basta que o patrocinador pague um salário para o atleta. É necessário dar orientação psicológica e educacional. O surfista tem que viajar para as competições preocupado somente com as baterias que vai correr.

Se ele tiver que pensar em transporte, estadia, alimentação, comunicação e etc., vai faltar concentração na hora de surfar.

O Adriano de Souza (atual top 3 do WCT) será o primeiro campeão mundial brasileiro?

O Mineirinho tem muitas qualidades e a principal delas é o foco de atleta. Ele sabe onde quer chegar. A decisão de sair dos assuntos domésticos e ir morar na Califórnia, centro onde o surf acontece, foi muito acertada. Tanto que estamos vendo seus resultados melhorarem a cada etapa.

O brasileiro tem patriotismo e acredita nele. Ele, por sua vez, sabe disse e que fazer o melhor possível. O Mineirinho treina antes e depois de cada etapa do WCT, tem estrutura profissional e está buscando o título. É um garoto muito forte, com certeza.

Da nova geração, você arrisca citar algum atleta brasileiro que pode chegar ao título?

Temos diversos garotos que estão arrebentando. O Jadson André e o Alejo Muniz são dois exemplos. Mas para que o talento vire título mundial é preciso dar todo o suporte necessário.

É preciso tirar o máximo de proveito possível da competição e tornar o esporte e os atletas cada vez mais profissionais.

A Silvana Lima, depois de tanto bater na trave, conseguiu a vitória em Bells Beach este ano. Ela chegará ao título mundial?

O Brasil pode ter uma mulher campeã mundial antes dos homens. A Silvana com certeza está no caminho certo.

Ela tem vantagem em relação às outras competidoras, é uma surfista de beachbreak e aumenta o cartel de pontos numa bateria com aéreos e etc. Mas perde um pouco no quesito psicológico.

Foi o que eu disse anteriormente, não é só bom surf que é preciso para se tornar um campeão. Precisa-se ter a cabeça no lugar.

O que o surf brasileiro mais perde sem a etapa feminina do WCT este ano?

Perde a possibilidade de mais brasileiras no WCT. Enquanto o tour masculino está sempre se renovando, o feminino pouco abre espaço para os novos talentos. Este ano tem novas caras, como a Bruninha (Schmitz), a Coco Ho, a Sally (Fitzgibbons)... Mas ainda existem muitos talentos sem profissionalização.

Uma etapa do mundial aqui aguça mais a vontade das meninas de fazer parte disso. É preciso ter um projeto para descobrir novos talentos, porque o esporte vive de surpresas.

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