quarta-feira, 30 de setembro de 2009

"a ÓtIcA dE uM sHaPeR" - Entrevista com o Shaper Piet Snel.


Correspondente de Novas Tecnologias SurfPE - 30/09/09 - 21:53.

Piet Snel personal hand shaper e proprietário da Concha surf board, considerado uma pessoa exemplar em nosso meio, trata a vida com muito respeito e seriedade o que o torna uma pessoa transparente e humilde, de personalidade forte, mas calmo e coerente com as palavras, leva uma vida simples por opção, naturalista convicto, é um digno homem do mar, e como a maioria destes, sábio em suas decisões, viajou por alguns mares o que o torna um especialista em pranchas de formatos específicos para estas regiões, por compreender com sua sensibilidade a necessidade em designer específico para determinada região no Brasil e em alguns países, é para mim um mestre que tem muito a dizer e fazer, pelo surf e por nossa sociedade com sua sapiência. Descobriu serrambí em 1976 e mora lá desde 1997.

Frase de Piet Snal inesquecível, para esta pergunta feita por mim Ruclécio Lucena quando eu era instrutor de DSD, assim que a máquina com seu sistema chegaram a Pernambuco.

R.L.- “Piet, você não vai comprar o programa e fazer aula de DSD comigo?”

P.S - “Não”

R.L.- Ai perguntei “por quê?”

P.S - “Eu gosto de fazer shaper”.


Entrevista com Piet Snal (P.S.) - por Ruclécio Lucena (R.L.)


R.L - Piet quantos anos de surf? E de shaper?

P.S - Comecei a surfar no Acaiaca em 1970 num velho longboard, uma velha Gasplac que ganhei como presente de aniversario de 15 anos, isto apos vários anos de surf de peito nas pranchinhas de isopor. Mais ou menos um ano depois eu a desencapei e fiz o shaper e a laminei, esta foi a primeira prancha que eu fiz.

R.L - Viajar é fundamental para um designer desenvolver uma linha específica com traços pessoais de quem encomenda, em que você dar mais ênfase ao compor este design?

P.S - Viajar sempre é um grande aprendizado, seja de diferentes culturas e estilos de vida e também sobre conhecimentos de pranchas. A primeira vez que eu fui aos Estados Unidos num intercámbio estudantil em 1973 ,tive a sorte de ver um vendedor da prancha que estava comprando e um shaper, falando sobre a funcionalidade dos shapes de diferentes pranchas, um querendo mostrar ao outro o quanto sabiam ,e eu estava assimilando tudo ao lado deles. Vi também algumas oficinas. Já depois disto ao voltar comecei a fazer pranchas para ganhar dinheiro, enquanto estudava para o vestibular e fazia faculdade.

Outra vantagem de viajar, é conhecer os outros oceanos (Indico e Pacifico,e Atlantico Norte), e que você aprende que toda onda exige uma prancha totalmente diferente. Como as diferenças: outline, espessura, curva de fundo, etc. Inclusive as diferencas na laminacao.

A idade, peso, pico de surfe , tamanho das ondas a serem surfadas , talento, preparo fisico do surfista, isto tudo influi, no shape final.

R.L- como é trabalhar em um lugar como o paraíso que você vive, e dá forma que todos os surfistas sonham em viver (viver do surf, numa praia com altas ondas, cercado de bons amigos)?

P.S - É uma coisa que levou anos para se concretizar, sabe (juntar dinheiro,comprar terreno, fazer casa, oficina). Nao foi fácil, a única desvantagem é um pouco a distância de alguns clientes, mas na era da comunicação não é um problema tão grande assim. Acho que nao me acustumaria em viver no Recife de novo.

Aqui se ganha menos mais tambem se gasta menos, pois vou surfar normalmente de bicicleta e só ando de carro para ir ao Recife fazer compras. E ainda vivo em uma comunidade um pouco mais harmoniosa , do que a da grande metropole. Mais muitos se inganam, achando que se vive de brisa, Ha contas a pagar, tal como ; luz , IPTU, IPVA, comida Etc.

O bom é acordar e checar o surf, a primeira coisa do dia, e tenho bons amigos que moram aqui também. Um sempre passa na casa do outro ou nos encontramos para bater um papo. Coisa de interior rsrsrs.

Piet surfando no quintal da sua casa - foto:Clemente Coutinho


R.L- No Brasil, quais as viagens que você recomenda a um surfista de alma (respeita as regras locais, se comporta como deve, é educado para tanto)? E no exterior?

P.S - No Brasil, conhecer os reef breaks para apreender a ler estas ondas, e ir ao sul ,sudeste. Fernando de Noronha, que tem seus bons dias de Power, igual a qualquer onda forte no planeta.

No exterior, nao conheco tantos picos assim, ainda falta conhecer o resto da America Latina e Central. Mais conheco bem o Hawaii, onde acho que se deve ir uma vez na vida, porque é a Mecca do surf, o lugar de origem do esporte, o lugar respira surf ,ver um surfista antigo feito o Tiger Espere, famoso dos anos 60 e 70 ,barrigudão, botar para baixo de uma onda de 12’’ -15’’(pés), naquele estilo Hawaiiano Clássico, como se um de nós pegassemos uma de 2 pes em Maracaípe, e isto no primeiro swell do ano, é coisa para hawaiiano que tem isso no sangue ha gerações.

Sentir a força e a energia do oceano lá, não dar para explicar, só sentindo na pele mesmo. A Indonesia é muito boa, as ondas são mais perfeitas e previsiveis do que no Hawaii. Esta tudo meio crowd hoje em dia, isto está acontecendo em todo o pico do mundo. A nova geracão não conheceu outra coisa, e já estão acostumado, mais aqueles que surfavam com outros poucos , sentem um pouco de dificuldade .

Piet Snel hawaii - foto: Arquivo pessoal Piet


R.L- O que mais te atrai no Brasil? E o que um brasileiro peca por não dar o devido valor a esta terra abençoada?

P.S - O Brasil onde nasci é um lugar bom de se viver, infelizmente isto não é para todos.Tem um povo bom e muito aberto, carinhoso, Mas é uma pena que alguns canalhas acabam como o prazer e bem estar de todos. Já foi melhor de se viver no aspecto de convivência social, na minha juventude acampávamos nas praias, e viajávamos de carro até o sul, dormindo nas praias, sem assaltos ou violência. Hoje em dia tudo custa muito dinheiro, Não se pode ser tão aventureiro como naquela época.

R.L- Por Piet, O que mudou nos surfista ao passar das décadas?

P.S - Para o ano vai fazer 40 anos que eu surfo. E a resposta seria; Por ter sido uma comunidade menor, havia um mais solidariadade ,era feito uma grande tribo, e em qualquer lugar que chegasse fazia logo amizade com outros surfistas. Seja isto no Brasil ou no exterior, e ainda é um pouco assim, pois tenho bons amigos em todo o mundo.

O surf tinha um aspecto menos competitivo. E hoje quando se surfa, muitos pensam em qual seria a pontuação de uma certo repertório de manobras na onda, não pensam na onda como um todo, ou só querem dar uma manobra radical e perder o resto que a onda tem para oferecer. Em vez de apagar os pensamentos e fluir com o todo, estão raciocinando e perdendo a magia do surfe, que é ficar com a mente vazia. Às vezes é tanta conversa, e confusões dentro d’água que não tem mais graça, trazem o mundo que deixaram na praia consigo, para dentro d’água!

R.L- Quem é Piet Snel, por Piet Snel?

P.S - Pois essa é boa! Quem sou eu? De onde? E para onde estou indo? É a pergunta primordial da vida. E é por isso que estamos aqui. Mais enquanto as respostas vêm chegando, eu tento viver uma vida limpa, pensar limpo, comer limpo e surfar limpo, e tentar deixar as coisas limpas para gerações futuras. Aloha


Telefone e e-mail para contato:

Piet Snal CONCHA surfboard - (0xx81) 91022461 / piet_snel@yahoo.com


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