Autor: SurfPE - Por: Jed Smith - Tradução: Juliana Corbari - 28/06/10 - 12:09. - Divulgação: www.vidasurf.com.br
Jadson, é destaque em site gringo - foto: reprodução.
Não querendo tietar demais, mas acho muito legal que um cara tão novo como Jadson
André tenha uma postura tão equilibrada frente ao que conquistou até agora, que saio
um pouco à cata do que a imprensa estrangeira especializada fala sobre ele.
O cara é tão diferente dos que seriam seus coetâneos, que se posiciona entre os grandes já,
passando quase despercebido o fato que ele venha de uma realidade bem distante
daquela dos caras que hoje o temem.
Não que ele tenha essa intenção, mas quer vencer, e o ponto da vitória focado à sua frente faz seus adversários no mar (que, de fato, são alguns anos mais velhos que ele) tremerem e se perguntarem da onde veio o moleque.
Jadson André - foto: divulgação ASP
A julgar pela reportagem da seção ‘surfers you should know’ da Revista Stab Magazine , com texto de Jed Smith, os caras querem mesmo saber quem é o Jadson, e entender esse efeito que o boy de Ponta Negra (que não é mais boy, é homem feito, de presença, com pinta e jeito de campeão, e isso pela sua humildade, simplicidade e simpatia) faz com surfers do mundo todo com seus aéreos espetaculares e sua fulminante estréia no WT.
A matéria “pinta” um pouco as condições dos surfistas no Nordeste brasileiro, mas é válida a leitura para sacar que o surfista nordestino pode sim se sobressair em meio aos que tem maiores condições de mar e de estrutura, justamente pelas ondas limitadas e falta de apoio material para o esporte nos estados do NE. A necessidade o leva a ser mais competitivo. Em suma, a
diferença entre a galinha de granja e aquela caipira... Entender o que os caras pensam de nós, brazucas, pode nos ajudar a buscar mais vitórias e nos fazer acostumar a subir mais em pódios, coisa que eles fazem com bem mais freqüência que nós.
Jadson deixou a imprensa estrangeira de queixo caído pela voracidade com que busca seus resultados, com equilíbrio e raça, força e controle ao mesmo tempo. Dão atenção especial às origens do garoto, e procuram entender a tenacidade do seu foco. Destaque ao comentário de C.J. Hobgood, e à saída do Jadson em resposta à Neco Padaratz em Sunset 2009.
JADSON ANDRÉ, 20 ANOS, RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL
“Eu trabalhei toda minha vida por isso. Eu sabia do início, naquelas ondas, onde eu
posso dar meus aéreos, que eu tinha tido a melhor oportunidade. Eu só tinha que
tentar pegar as melhores ...” relembra Jadson André momentos antes da final do
Santa Catarina Pró no Brasil.
Para um estreante de 20 anos, com três eventos do ASP World Tour, fazer uma final,
em casa, contra o maior do mundo, já é uma perspectiva bem assustadora. Ninguém
pode culpá-lo se ele deu uma engasgadinha.
Numa apresentação impecável e essencialmente brasileira de beachbreak surf, Jadson arrancou bombas do nove vezes campeão mundial Kelly Slater. Ele saiu erguido e carregado pelos locais de Imbituba. Nenhum conhecido seu.
“Foi a melhor sensação da minha vida” ele disse. A vitória de Jadson, por mais enervante que possa ter sido para os outros competidores, não deve ser encarado como surpresa. Com o novo critério de julgamento da ASP favorecendo unicamente manobras de alto risco, veremos uma
inteira geração de brasileiros que cresceram em beachbreaks quebrando aéreos movidos aos filmes de Taylor Steele, aumentarem o nível da elite do surf nos próximos anos. Quando isso acontecer, trará consigo uma consistência no surf de manobras radicais, e na cultura de agressividade competitiva no esporte. Mas ao que parece, o World Tour Surfing não acabou, se a resposta dos adversários de Jadson forem à altura.
Após a vitória de Jadson, seu oponente Slater o ridicularizou e o desafiou a repetir
seu desempenho em Teahupoo e Pipe. Jadson respondeu: “Não estou preocupado se não fizer bonito em Teahupoo ou Pipe, pois tenho um longo tempo ainda para trabalhar e melhorar. Ele é nove vezes campeão do mundo, ele pode falar o que quiser... ele sempre será meu surfista favorito.”
Jadson é consciente dos sentimentos ambíguos que foram reservados à ele, mas também o confunde. “Porque eles não gostam? De como eu luto pelas ondas? Eu amo isso. É uma competição, você sempre vai querer pegar a melhor onda.” Não é que sua agressividade tenha uma mentalidade racista ou nacionalista. Ele mesmo me conta que um dos seus maiores confrontos foi justamente com um conterrâneo seu, um ícone do surf brasileiro Neco Padaratz, em Sunset, no O’Neill World Cup 2009, onde Jadson e Neco revezavam as remadas numa disputa de floreios à certa altura. “Aí Jadson, que c** * você ta fazendo? Eu preciso desse
resultado. Você é o número 3 do mundo, não precisa disso. Eu tenho um filho, cara,
você tem filhos?” E Jadson: “Ah, você tem um filho? Bom, eu tenho quatro: uma mãe,
um pai, e dois irmãos.”
Num clássico exemplo da mentalidade brasileira, uma vez na areia a clima voltou ao normal. “Quando se chega na bateria, não há amigos. Eu não converso durante as baterias. Mas eu sempre aperto as mãos dos adversários no final das baterias, não importa o que aconteça. Se eles não me deixam pegar as ondas, também não tem problema, afinal, esse é o trabalho deles. “
Mas mesmo Jadson traça seu objetivo no horizonte.
“Eu nunca serei agressivo. Nunca vou tocá-los. Tento remar pra cima deles, mas nunca vou tocá-los os brigar com eles” É também verdade que Jadson fomenta um tipo de competitividade extrema que é rara hoje em dia. Não é preciso cavar muito para descobrir o porquê. Crescido numa área mais pobre do Estado do Rio Grande do Norte no Nordeste brasileiro, Jadson tem sido o principal provedor da sua família desde a adolescência.
“Meus primos eram de gangs. Dois foram mortos pela polícia por tráfico de drogas. Quando eu tinha quinze anos me mudei sozinho para São Paulo porque lá tem ondas melhores. Estou lutando por uma vida melhor. Se eu não lutar, fico sem patrocínio e tenho que voltar para trabalhar como minha mãe, por cem dólares mensais.”
Mas nem todos os brasileiros estão “lutando por uma vida melhor”. O clima competitivo ainda prevalece, e Jadson puxou à um nível cultural a diferença entre os surf brasileiro e o do resto do mundo, resultado simplesmente do fato que no Brasil existem surfistas de mais e ondas de menos.
“Todo mundo rema para lutar pelas ondas. Mesmo no free surf, quando chega uma
onda, todos remam para alcançá-la. Aqui (na Austrália), a galera espera as ondas
virem até elas.”
Um sentimento competitivo tão saudável ser visto tão negativamente pelos rivais é um sinal dos tempos. Ou, como o Campeão Mundial 2001 C.J. Hobgood bem colocou: “Não passam de um bando de bebês chorões.”
Quando Jadson e seu exército de acrobatas seguirem dando aéreos no cenário mundial, a menos que algo saia errado, não vai ser moleza. (...)
“O surfista brasileiro vai sempre lutar pelas ondas.” diz Jadson.
Link da revista americana Stab Maganize.
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