Por Redação Waves - 26/12/11- 18:01 - link fonte:
Dane Reynolds desabafa sobre saída do World Tour. Foto: Paulo Camargo.
No texto abaixo, traduzido por Marcos Myara, do site Layback.com.br, Dane fala de critérios do Tour, desgaste com competições, free surf e muitos outros assuntos.
"Tenho sido pressionado por várias pessoas e / ou sites para escrever alguma coisa, tipo uma declaração oficial, a respeito de minha saída do World Tour. Meu desmonte. Meu surto. 'Uma oportunidade de entender-se com seus fãs'. É isso que eles me dizem. As pessoas querem saber o que está rolando, ficar por dentro. Eu entendo isso. Eu gosto de ficar sabendo o que está rolando. Eu gosto de estar atualizado.
Uma coisa para se lembrar é que eu tenho um coração e eu tenho ossos e músculos e pele e olhos e dentes. Eu tenho emoções. Às vezes eu penso e tomo decisões conscientes. Eu geralmente faço isso. Na verdade, eu geralmente penso demais. Meio neurótico. Eu cometo erros, e eu lido com eles.
Eu tenho medos, tenho ansiedade, tenho inseguranças e tenho vícios aos quais volta e meia eu cedo. Situações sociais potencializam todas estas características. Eu poderia provavelmente usar um pouco de disciplina, e muitas coisas me deixam desapontado, mas geralmente eu sou feliz, e eu gosto de fazer outras pessoas felizes. Às vezes, um sorriso é só o que é preciso. Às vezes é preciso muito mais do que isso.
Dane revela que ainda pretende disputar algumas competições. Foto: Rildo Iaponã.
Eu tento ser honesto, principalmente comigo mesmo. Eu sei que sou um felizardo. Estou sentado aqui e eu tenho batimentos, consigo respirar e eu escuto pássaros lá fora e o barulho da rodovia. O sol está prestes a se pôr, e é sexta-feira. isso é ser felizardo. Eu também sei que sou felizardo em muitos outros sentidos. Três marcas me dão suporte e me possibilitam surfar todo dia e viajar e comer e ter uma casa pra viver. Em troca eu represento a empresa deles de maneira positiva.
Eu sinto que faço um trabalho decente. Mas isso obviamente está sujeito a debate. Surfar é a minha paixão na vida. Eu sempre penso sobre o quão sortudo nós somos de simplesmente ter um oceano, e não é muito quente ou muito turbulento, e não é feito de ácido que queima toda a sua pele.
E quanta sorte da terra terminar no mar, exatamente da maneira certa para fazer com que quando ondas de energia vindas de milhares de quilômetros de distância se aproximam, elas gentilmente ganham tamanho e quebram na velocidade perfeita para que possamos mover nossos pequenos braços, igualar nossa velocidade a elas e depois nos pendurar na crista, sem peso, por só um segundo antes de deslizar por sua face abaixo, livre para utilizá-la da forma que se bem entende. E não se tem só uma delas. São muitas delas. Elas não param de vir. De todos os tamanhos, formatos e velocidades. Todos os dias elas são diferentes. Felicidade infinita.
Existe, é claro, uma série de coisas que servem de obstáculo para se sentir esta felicidade: crowds, impostores no Twitter, locais chatos, surf bloggers chatos, fotógrafos excessivamente zelosos, Chris Mauro (editor da Surfing) e campeonatos da Rip Curl, para citar alguns. Isto foi uma piada, mas nem tanto, e além do mais, surf não é só felicidade. É tambem um esporte, uma indústria. E nós não podemos misturar negócios com lazer.
Ao aceitar apoios eu assumo uma certa responsabilidade. Alguns acham que responsabilidade é competir, colocar uma lycra e estraçalhar meu adversário. Independente de um critério frágil e unidimensional e um campo de jogo inconsistente que causa o resultado a ser raramente atribuído a performance somente. Talvez esta seja a graça. Eu não sei. Eu de fato gosto disso, mas, se eu acredito nisso?
O suficiente para dedicar a melhor parte da minha vida? Ou isso é irrelevante porque está é minha responsabilidade? Eu não precisei responder esta pergunta porque a cirurgia do joelho em janeiro respondeu para mim. No tempo em que estava me recuperando, eu já era. Desleixado. Aventura, em vez de responsabilidade. Suicídio de carreira! Jogando fora meu potencial, desperdiçando meu talento. Eu escutei o falatório.
Californiano de 26 anos quer explorar novas fronteiras. Foto: Rabejac / Quiksilver Europe.
Na realidade eu estava sendo construtivo de uma maneira diferente. Viajando para uma variedade de lugares e quebrando barreiras pessoais na tentativa de aprender, crescer e melhorar. Não é tão imediato quanto um webcast de campeonato, e Deus que me perdoe, mas é prazeroso, mas no final das contas é igualmente importante e eu venho negligenciando isso por muito tempo porque estava em uma situação confortável onde somente resultados de campeonatos já eram satisfatórios.
Para ser bem sucedido no surf de competição, você tem que refinar e embrulhar sua atuação em uma pequena polida embalagem para ser apresentada em um periodo de 30 minutos, em uma série de condições diferentes. Você precisa acabar com as variáveis, aparar as pontas, permanecer em sua prancha, conhecer seu equipamento, seleção de ondas, tentar interminavelmente repetir manobras que garantem mais pontos.
Obviamente existem exceções a isso. O slob air reverse com a rotação completa de Kelly Slater em New York. Aquela não foi uma manobra repetida e foi épica. Depois, na praia: ‘Então, Kelly Slater, como foi aquele slob air reverse?’. ‘Ah, é esse o nome daquilo?’. Também John John Florence e Gabriel Medina. Talvez seja só uma questão de tempo até que eles refinem suas atuações, mas até agora eu estou muito impressionado com o sucesso competitivo deles, mesmo sendo tão rústicos. Rústico é bom.
Surfar com o John John este ano no Japão foi revelador. Era como se em cada onda ele estivesse explorando novos territórios. Eu quero explorar novos territórios! Eu quero me libertar! No final da viagem, eu me sentia aperfeiçoado e rejuvenecido, e então, crunch! Quebrei a costela bem na chegada de um novo swell de tufão. Quase me afoguei. Outro mês fora da água. Tem que se pagar para brincar. Principalmente quando você está tentando se manter no nível de John John.
Então aqui estou. 26. Oficialmente fora do Tour. Talento desperdiçado. Potencial jogado fora. Rejeitando responsabilidade. ‘Tudo que ele quer é sentar em casa e brincar com Crayons e surfar com pranchas esquisitas’. Mas, espera! Espera! Isso não é verdade! Não escute Chris Mauro. Ele é um dinossauro. Não entende. Isto pode ser o fim como um participante do WT, mas é também um novo começo. Eu me sinto como uma bola de baseball. A pele foi cuidadosamente descascada e tem um fio, eu vou puxá-lo e vou terminar como um monte de linha no chão. Mas então, talvez eu serei tricotado no formato de algo mais útil, como uma malha, ou talvez algo bonito, como uma obra-prima bordada à mão de dois antílopes bebendo água gelada de um córrego.
Mas nunca se sabe. Eu espero atingir uma certa forma de equilíbrio. Sim, eu de fato gosto de surfar com pranchas esquisitas, mas também gosto de dar aéreos e usar de certa agressão em um cutback. E competir é irado se você consegue manter-se inspirado, mas rankings e troféus significam muito pouco para mim. Eu quero aprender, eu quero fazer coisas, coisas de significância, ser produtivo. viajar. Novas experiências. Novas sensações. E mais importantemente explorar os limites do surf de performance. Eu ainda competirei, mas isso não irá me consumir.
Achar este equilíbrio será um desafio, mas é só um degrau em uma escadaria sem fim. É meio que um degrau grande. Grande demais para simplesmente subir com um pulinho. Eu tenho que escalar. Tipo, com uma corda e equipamento de segurança e o cacete. E eu posso chegar lá e ficar decepcionado por gostar mais do meu degrau anterior, mas isso é simplesmente o mistério da vida e eu estou disposto a experimentá-lo. E eu estou em um débito sem fim com os que fazem isto ser possível.
Primeiramente, fãs que se identificaram com o meu surf por uma razão ou outra, porque na base de tudo, vocês são a única razão para eu ter um patrocínio que me permite viajar e comer e pagar as contas e continuar surfando. Secundariamente, meus patrocinadores: a Channel Islands acreditou em mim desde meus 13 anos e continua fazendo pranchas que me permitem utilizar o máximo do meu potencial e também pranchas que não têm nada a ver com performance, mas fazem você perceber quanta alegria você pode tirar de uma linha simples.
Agradeço a Quiksilver por seu inabalável suporte, renovando meu contrato em um ano de incertezas e trabalhando comigo em produtos e campanhas honestas. Também agradeço a Vans por me selecionar. Cada um do time é um dos meus surfistas / pessoas favoritos e tenho honra de fazer parte disso.
Existem, é claro, centenas de pessoas para serem agradecidas aqui, mas é isto que me vem à cabeça esta noite: minha namorada Courtney, por me dar inspiração, perspectiva e amor; Blair, por manter a bagunça que é minha vida em ordem; meus pais, por seus pontos de vista conflitantes - eu não acho que teria me dado muito bem em uma casa de família comum; meu pai, particularmente, por dedicar incontáveis fins de semana a me levar para cima e para baixo da costa para competir - aquilo foi um grande sacrifício; e também minha mãe, por pregar criatividade, coragem e por manter tudo sem frescura; meu irmão Brek, por administrar muitas situações com humildade desde bem novo; meus avós, por serem provavelmente meus maiores fãs na terra; especialmente Bonnie e Papa Chuck, que vêm a todos os campeonatos de surf na costa Oeste. Eles aparecem às 7 da manhã para pegar uma vaga boa, mesmo se eu só surfo às 3; e também meu avô Bob, por me dar suas câmeras Super 8 quando eu tinha 18 anos e instigando um hobby para a vida toda".
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